Improvisação difícil: Brasil
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Improvisação difícil: Brasil



O Brasil é um país sul-americano com duas semelhanças em relação ao o jazz. Uma diz respeito ao processo de miscigenação entre diversas etnias, classes sociais e até mesmo, religiões. Já a segunda, refere-se há a forma com que o jazz e o Brasil recriam-se nos momentos de decisão prática, em que as teorias ficam em segundo plano.

A primeira de mais fácil explicação diz respeito às classes sociais distintas, em que europeus ricos e alfabetizados possuidores de um estereótipo erudito tiveram que conviver com negros pobres e iletrados possuidores de uma imagem folclórica. Tal ocorrência aconteceu na cidade de Nova Orleans e em maior escala no Brasil, não tanto no aspecto político, mas principalmente no artístico. Com essas fusões, estilos se juntaram para criar diferentes acordes, ritmos e sensações musicais.

Atualmente vê-se claramente a abrangência de nossa música contemporânea, que igual ao jazz, possui diversas bandas, cantores e compositores que em suas obras fazem uso de um vasto leque de influências. Por causa da globalização, e das diversas culturas, o Brasil é o país da junção da música pernambucana com o rock de Chico Science & Nação Zumbi, e do encontro do heavy metal com a percussão baiana do álbum Roots da banda Sepultura.

O encontro do erudito com o popular, e entre o antigo e o contemporâneo fazem parte da sociedade em que as distâncias foram encurtadas pela tecnologia, tecnologia que também encurtou as barreiras que dizem respeito à participação das classes sociais em manifestações artísticas. Chegou-se ao ponto de dizer que não há mais regras que impeçam que determinados Gêneros não possam se cruzar em uma canção. Atualmente o jazz e a música brasileira, como o próprio Brasil, possuem o desafio de construírem algo com conteúdo e coesão no meio de tantas referências culturais.

Nesse jogo de influências que fazem parte do mundo jazzístico e brasileiro, o comunicólogo espanhol Jesús Martín-Barbero cita em sua obra Dos meios às mediações – comunicação, cultura e hegemonia que a síntese entre o folclore e o erudito é algo positivo, e que não afeta o nacionalismo. Para ele canções populares produzidas sem a interferência comercial, podem reter influências eruditas sem perder o caráter regional:

O projeto do nacionalismo musical opera sobre um eixo interno e outro externo. Estabelecimento de uma “cordão sanitário” que separe nitidamente a boa música popular – a folclórica, ou seja, aquela que é praticada no campo – da ruim, a música comercializada e estrangeirizante que é feita na cidade. E o externo: proporcionar ao mundo civilizado uma música que, refletindo a nacionalidade, possa ser ouvida sem estranhamento, música que só poderá resultar da “síntese” entre o melhor do folclore local e o melhor da tradição erudita européia. A música de Villa Lobos será a mais esplêndida realização desse projeto (MARTÍN-BARBERO, 2003 p.244).

Já a segunda relação está centrada em uma das principais marcas do jazz: a improvisação. Como visto na história, a improvisação começou na África, cuja sustentação estava na linguagem oral e verbal. Com o jazz, passou-se a usar a improvisação através dos instrumentos musicais, principalmente os de sopro. Nela o instrumentista deve dar um toque pessoal ao tema central de uma obra, fazendo uso principalmente de suas emoções que se sobressaem ao formalismo musical propriamente dito.

Essa última relação possui semelhanças com o chamado jeitinho brasileiro, expressão popular usada para identificar ações usadas para resolver rapidamente certos problemas que podem surgir. Tais soluções muitas vezes fogem ao formalismo para solucionar questões inesperadas, tendo a criatividade, tão patente nos brasileiros não só nos problemas do dia-a-dia, mas também em organizações não-governamentais, publicidade, cinema, e música.

Referência bibliográfica

MARTÍN – BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações – comunicação, cultura e hegemonia. 3ª ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003.



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