Improvisação difícil: a imagem elitista
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Após o efervescer cultural de Nova Orleans no inicio do século XX, o jazz nas décadas seguintes deu continuidade nesse processo de abrigar diversas influências musicais, mas agora ampliando seus horizontes, não apenas à música norte-americana, européia e africana, mas também indo até à América Latina e Oriente Médio, e também com o rock no final dos anos 60 (BERENDT, 1975).

A abertura que o jazz deu para outros estilos musicais foi mais significante do que a abertura dada pela música clássica e pelos gêneros populares europeus. O jazz era o expoente de liberdade musical, pois os seus compositores, arranjadores e instrumentistas não se importavam com a origem de gêneros musicais “exóticos”, mas sim com a sua musicalidade. A chamada world music estava, cada vez mais, próxima ao jazz. Como exemplos temos os saxofonistas Yusef Lateef e Roland Kirk, esse último cego, que fizeram músicas com forte influência da cultura árabe; o trompetista Dizzy Gillespie mostrou ao mundo o poder dos ritmos afro-cubanos; e o flautista Herbie Mann que levou para os quatro cantos do planeta um jazz aliado à musicalidade brasileira.

Mas além das diversas formas de músicas exóticas chamadas de world music, o jazz igualmente se aproximou de gêneros estabelecidos e aceitos pela cultura popular norte-americana, como o rock e o funk. Ambos deram novos rumos ao jazz que nas mãos do trompetista Miles Davis que criou em 1970 o álbum Bitches Brew. Obra essa que flertou com a psicodelia e o experimentalismo, frutos do Woodstock e mais precisamente do guitarrista Jimi Hendrix, amigo de Miles Davis. O planeta das guitarras e dos teclados entrou no universo do jazz.

Foi a partir dessa sua liberdade em aceitar novos ritmos e culturas que o jazz foi perdendo para muitas pessoas o seu caráter popular. Isso se deveu à duração de suas músicas e à falta de uma linearidade padrão de suas melodias e harmonias, que foram criadas no bepop e consolidadas no free-jazz. “As estruturas rítmicas passaram a ser autônomas, não raro se contraponteando e destruindo, assim, qualquer idéia de seqüencia ou desenvolvimento rítmico linear” (BERENDT, 1975 p. 38).

Por sua expansão musical o jazz tornou-se por questões mercadológicas um produto de difícil assimilação para o chamado público de massa, esse que está habituado a ouvir canções com padrões aliados a questões melódicas e de tempo. Por ter sido construído por vários elementos ao longo dos anos, o jazz leva consigo muitos detalhes que requer do ouvinte uma concentração maior. Por isso, tal gênero musical requer dos ouvintes a capacidade de distinguir liberdade e caos, processo esse inicialmente difícil.

Hoje cabe dizer que o jazz, principalmente em países como o Brasil tem sido apreciado principalmente por pessoas de classes sociais mais altas que desde a sua infância tiveram contato com a música clássica bem como outras culturas ao redor do globo. Além desse grupo, os produtos de jazz também são consumidos por músicos que o estudam em busca de um maior aperfeiçoamento musical.

Referência bibliográfica

BERENDT, Joachin E. O jazz – Do rag ao rock. Trad. de Júlio Medaglia. São Paulo: Editora Perspectiva, 1975.




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